30 outubro, 2007

 

Cultura do silêncio

Por Luiz Ernesto


Brasileiro já se acostumou à política do "sim senhor", clara submissão a situações que, geralmente, conclamariam posturas decisivamente contraditórias a essa resignada "busca pela paz" e à não reclamação dos seus legítimos direitos...


Ultimamente, um questionamento vem sendo feito pela maioria da mídia e dos sociólogos do País: - Qual o porquê de tamanha passividade da população diante das injustiças do dia-a-dia e dos escândalos protagonizados por autoridades dos mais diversos segmentos públicos e privados?Enfim, qual a razão de tamanha apatia?
Uma matéria veiculada recentemente em uma das principais revistas semanais do País procura explicar, de maneira plausível, alguns dos motivos que geram tal comportamento.
Vou tentar resumir o conteúdo do texto: Pelo que se deduz, a partir do estudo comportamental brasileiro, a maioria do povo tupiniquim não tem o hábito de reclamar, de protestar.
Alguns exemplos: o famoso costume de alguns em "furar filas". Simplesmente disfarçamos, até fingindo não ver a transgressão dos nossos direitos; compramos produtos com defeito e sequer reclamamos pelo seu conserto ou substituição. Se nos dirigimos ao Procon e encontramos uma fila, então desistimos de oficializar o reclame.
Portanto, se nós, brasileiros, não nos predispomos a reclamar das injustiças pessoais, aquelas que nos afetam diretamente, muito menos iremos protestar contra as denominadas injustiças "coletivas". O elenco é expressivo, impressionante: majoração desregrada da carga tributária, corrupção dos políticos, violência diária, descaso dos hospitais e outros setores interligados à Saúde, principalmente a pública...
Nós nos pautamos por sermos cordeiros, ao invés de assumirmos e lutarmos pelos direitos que efetivamente nos pertence, e que vem sendo paulatinamente transgredidos.Ninguém quer bancar o chato, diz o texto. Na realidade, ninguém quer "ser diferente". Se ninguém reclama, por que serei eu a fazê-lo? Uma hora alguém vai reclamar! E todos pensando assim, ninguém reclama e nada muda. Um esperando que o outro faça o que gostaria de fazer e cruzamos convenientemente os braços...
A outra razão: "A prática das pequenas infrações que cometemos todos os dias". Semáforos são furados, bem como a velocidade máxima permitida é extrapolada. Também adquirimos produtos piratas, jogamos lixo nas vias públicas, etc., etc... E por aí vai. É um rosário de irregularidades cometidas aleatoriamente. Não se pode, pois, exigir que uma sociedade de "rabo preso" seja uma sociedade de protesto...
Pelo menos se constata um ponto positivo em tudo isso: a mídia funciona como desencadeadora de reclamações, principalmente nos casos de políticas públicas, gerando o sentimento nas pessoas de não estarem isoladas nessas reclamações. Isto aumenta a já reconhecida importância dos meios de comunicação, instrumentos de ressonância dos anseios e protestos da nossa população.Uma coisa é certa: a nossa cultura do silêncio precisa acabar.
Ou, conforme dizemos nós, cuiabanos: "na toada que as coisas vão indo, os nossos filhos e netos serão meros espectadores da deterioração permanente dos nossos valores morais e adeptos cada vez mais do famigerado "jeitinho brasileiro", ou como queiram, da famosa "Lei de Gérson".Assim não dá!!!
Ah! Antes que me esqueça, já dei o primeiro passo. Este texto é uma reclamação contra a "não reclamação". Vamos reclamar, pois.

Luiz Ernesto é cuiabano, funcionário público aposentado é diretor de Comunicação da Afemat (Associação dos Funcionários da Fazenda de MT)

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Voto secreto ou aberto

Por Luiz Ernesto

O editorial do jornal “Folha de São Paulo” do último dia 06/09/2007 intitulada “A arte de dizer sim ou não” utiliza o caso “Renan” para avaliar a questão do voto fechado ou aberto dos nossos parlamentares nas nossas casas de leis, (Câmara e Senado) quando se trata de decidir o destino de seus pares que supostamente infligiram o chamado decoro parlamentar.
Não posso deixar de meter a minha colher de pau como dizemos nós cuiabanos) neste assunto.Se continuarmos a nos preocupar com a garantia de votos secretos dos nossos representantes políticos para não submetê-los a qualquer tipo de pressão (os segmentos econômicos o fazem à escuras), teremos que abrir mão do nosso direito de tomarmos conhecimento das suas posições sobre os mais diversos assuntos de nosso interesse e assim podermos julgá-los.Essa é a questão. Simples.
Não há dúvida que há muito político se escondendo atrás desse tal “voto secreto”. Consegue praticar corporativismo e enganar o povo ao mesmo tempo, dizendo que votou na vontade do povo quando na verdade (secretamente) votou para proteger um de seus pares.É claro que o chamado voto “aberto” se não garante a transparência dos compromissos éticos, pelo menos “constrange” e torna mais difícil essa tarefa de praticar a chamada proteção de parlamentares, que transgrediram esses compromissos e que assim não terão que justificar suas posições e proporcionar a chamada impunidade política.
Por outro lado há que se considerar que esse tal “voto secreto”, coloca na mesma “vala“ por não podermos fazer a identificação do voto, políticos que tem compromissos éticos, dos que não prezam pelos mesmos valores.Esta é uma decisão que não pode tardar. Protegemos os votos de nossos parlamentares ou protegemos nossos interesses?
Esta a questão, como já disse é muito simples. Não temos outra opção.Se estão querendo convocar Assembléia Constituinte exclusiva para que avaliemos a estatização novamente da Companhia Vale do Rio Doce, por que não decidirmos se eles podem ou não esconder o seu voto do povo?

Luiz Ernesto é cuiabano, funcionário público aposentado é diretor de Comunicação da Afemat (Associação dos Funcionários da Fazenda de MT

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